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Pandemia transforma relação das pessoas com os centros urbanos

Da casa onde vivemos à infraestrutura e planejamento das cidades, a Arquitetura e Urbanismo está inserida, ainda que sutilmente, e é peça fundamental para a organização social, e,colaborando para promover transformações históricas e socioculturais. Prova disso é a constante busca por formas de atender às necessidades das pessoas, no contexto de tempo-espaço, proporcionando conforto e bem-estar.

Nas palavras do Arquiteto e Urbanista Neilton Dórea, vice-presidente do CAU/BA, a cidade nada mais é que “um engenho criado para qualificar a vida das pessoas, que foi se desenvolvendo de uma forma aleatória”.

Neilton também pontua as mudanças do formato dos grandes centros urbanos ao longo dos anos. Defende ainda que as cidades sejam inclusivas, buscando evitar o afastamento da população mais pobre dos centros das cidades.

“A gente fica preso ao passado; coisas mínimas que não mudam. A cidade tem que ser inclusiva. Temos problemas étnicos, financeiros e econômicos, e aí as pessoas menos favorecidas são empurradas para longe das cidades. Ter o seu trabalho mais próximo à sua morada, por exemplo, criar uma interação entre as comunidades e ajuda a construir uma cidade melhor”.

Com a pandemia do novo coronavírus, medidas para garantir o isolamento social foram adotadas, buscando reduzir o índice de contaminação e evitar um colapso no sistema de saúde. Essa dinâmica alterada levou a relação entre pessoas e cidades a um novo estágio. Seguindo o protocolo de retomada das atividades comerciais na cidade, bares, restaurantes, shoppings centers e academias voltaram a funcionar, mas com restrições de quantidade e horário de funcionamento e, a partir dessa nova rotina, uma nova ordem na relação cidadão-cidade foi estabelecida.

“Começou a mostrar [a pandemia] muita coisa. Antes, precisávamos nos deslocar para trabalhar, e para deslocar, precisávamos sair de casa. A tecnologia traz essa vantagem, a possibilidade de poder produzir a partir de sua casa”, comenta Neilton, que também fala sobre o desafio que arquitetos e urbanistas terão pela frente: planejar uma cidade que atenda às novas demandas sociais pós-pandemia.

“O pensar da arquitetura tem que ser diferente, desde a mobilidade. A favela não tem como se deslocar tanto. Essas pessoas não estão atreladas à cidade em nada, não há uma cidade discutida. A gente precisa administrar para que as comunidades tenham uma relação de troca, onde o poder seja descentralizado. A arquitetura ainda está com o pensamento no século XIX, enquanto tem muita gente que não tem acesso sequer a água”, conclui o arquiteto, reforçando a necessidade de um modelo de cidade que fortaleça as interações entre os diferentes grupos sociais.

As restrições trazidas pela pandemia exigem que as pessoas procurem se adaptar a uma nova realidade dentro de suas cidades. Acostumado com a vida agitada de Salvador, o advogado e jornalista Osvaldo Barreto está tentando se acostumar aos poucos com as limitações impostas pela nova rotina da cidade.

“Nessa quarentena, tenho evitado ao máximo ir à rua, basicamente saio para realizar compras no mercado. O trabalho se tornou home office desde o dia 26 de março, ou seja, estamos indo quase para o quinto mês”, relata Barreto, que indica ainda como maior dificuldade neste período a falta de contato físico com as pessoas mais próximas.

“A maior falta que sinto até o momento é a de contato com as pessoas. Dizemos sempre que o mundo se tornou virtual, mas estamos agora vivendo realmente essa situação”, pontua o advogado.

A pandemia escancarou alguns conhecidos problemas sociais do país: a necessidade de dispor de um serviço de saúde pública de qualidade, a falta de acesso à educação básica por grande parte da população, e os problemas de infraestrutura atrelados à habitação. Enquanto enfrenta dificuldades para cumprir sua função de atender a todos em meio a maior pandemia do século XXI, o Sistema Único de Saúde (SUS) revela a importância de tornar eficiente o sistema de saúde gratuito. Segundo Barreto, a deficiência na educação pública no Brasil reflete na dificuldade que uma parcela da população tem em respeitar as medidas de isolamento social e evitar aglomerações, ponto essencial para a redução do número de contaminados pela Covid-19.

“Coisas basilares para a sociedade durante essa pandemia afloraram, como um serviço de saúde de qualidade e o principal, o quanto a educação básica faz falta em uma sociedade. O que adianta sermos um povo festeiro e acolhedor, se não conseguimos ter consciência social para nos privarmos pelo coletivo?”, conclui.

Já para a estudante Camila Mendes, apaixonada pelo mar, o simples ato de admirar a orla da cidade, que já era uma atividade habitual, faz falta em tempos de pandemia.

“Antes eu passava todos os dias pela orla de Salvador e admirava o mar lindo que a gente tem. Sabe aquela sensação de que você não ia poder ter isso por um tempo? Eu nunca tive, e hoje vejo o quanto não cuidávamos desses lugares e como eles trazem tanto para a gente. Paz, liberdade, alegria! Se nos mantivermos firmes, na luta, voltaremos a aproveitá-los em breve; acredito que com mais consciência, amor e admiração”, conta Camila, que, apesar de sentir falta da rotina nas ruas, tem usado a oportunidade para colocar em prática planos pessoais e profissionais antigos, protelados por causa do tempo limitado.

Atualmente, Salvador está na segunda fase do protocolo de retomada das atividades econômicas, elaborado em conjunto pela Prefeitura e o Governo do Estado. São três etapas, onde cada uma flexibiliza a reabertura de determinados setores do comércio, de acordo com a redução da porcentagem de ocupação dos leitos de UTI. A necessidade de adequar os espaços nessa nova realidade representa oportunidade de trabalho para arquitetos e urbanistas. A rigorosa observância das diretrizes instituídas pelos protocolos de retomada pode representar, neste momento, a retomada e aquecimento do segmento, contribuindo para que a percepção de valor da Arquitetura e Urbanismo, não somente nas moradias, mas também nos negócios, independentemente do porte, se dissemine. Para ter acesso ao protocolo de retorno das atividades na capital, clique aqui.

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