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Gilcinéa Barbosa: “Apesar de sermos maioria, a representação feminina ainda é pequena”

Presidente do CAU/BA fala sobre o início de sua carreira e representatividade da mulher na arquitetura

Gilcinéa Barbosa, presidente do CAU/BA (Foto: CAU/BA)

 

Gilcinéa Barbosa da Conceição integra o Conselho de Arquitetura e Urbanismo desde 2015, quando foi eleita conselheira estadual. Desde lá, sua atuação é intensa e preocupada com o fortalecimento do papel social da Arquitetura e Urbanismo, sobretudo no Estado da Bahia. Formada pela Universidade Federal da Bahia, integra a diretoria regional da Federação Nacional de Arquitetos e Urbanistas e já foi presidente do SINARQ Bahia. Hoje, está dedicada em contribuir para a transformação da profissão do arquiteto, ampliando o interesse público, além de harmonizar o direito à cidade a atuação indispensável deste profissional. Confira a entrevista dada ao CAU/BA neste especial dedicado ao Dia Internacional da Mulher.

 

Como aconteceu a sua escolha pela Arquitetura e Urbanismo como profissão?

 

Desde pequena, no contato com as artes plásticas, gostava de desenhar casas e aldeias urbanas. Na adolescência, o contato com o curso técnico de Edificações e o fascínio pelas obras arquitetônicas me fizeram escolher a Arquitetura como profissão. Estagiei em alguns escritórios de arquitetura, em construtoras e também com pesquisas ligadas a tecnologia e conforto ambiental. Esta experiência no período de estudante me levou ao Planejamento e Desenho Urbano como foco principal da minha atuação.

 

Quais são as arquitetas e urbanistas que lhe inspiraram durante sua trajetória profissional?

 

Não são muitas, pois a divulgação da produção de arquitetas mulheres é invisível ou pouco mencionado nos meios de comunicação. Mas temos grandes nomes que são referências como Lina Bo Bardi, Zaha Hadid e a arquiteta afro-americana Norma Sklarek, não só pelo talento mas pela ousadia de atuar num país machista e racista, sendo inspiração de novas possibilidades para nossa sociedade.

 

O mercado de Arquitetura e Urbanismo no país é composto, prioritariamente, por mulheres. Sob o prisma da representatividade, como avalia esta estatística?

 

Apesar de sermos 63% dos profissionais cadastrados no Sistema CAU, no Conselho a representação feminina é percentualmente pequena. Dos 27 estados do país, apenas 6 têm presidentes mulheres, como também apenas 6 são conselheiras federais titulares. No universo dos conselheiros, somos apenas 1/3 de conselheiras titulares e quase metade de conselheiras suplentes. Esse quadro mascara um pouco a distorção real porque estados com muitos conselheiros como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais têm quase metade da representação de mulheres porém, em boa parte dos estados, a representação feminina é muito pequena. Há locais em que, de 10 conselheiros, apenas uma é mulher. Isso não significa que as mulheres não estão na política laboral, pelo contrário. Se temos metade do número de conselheiras eleitas como suplente o que as impediram de comporem as chapas eleitorais como titulares? Infelizmente se reproduz no CAU os mesmos índices do restante da sociedade em relação a desigualdade de gênero.

 

Em sua opinião, o papel social da Arquitetura e Urbanismo vem sendo cumprido?

 

Não. Acredito que não devemos apenas criticar as legislações, projetos e propostas de intervenção urbana. Mas temos o dever de mudar isso, participando ativamente da gestão compartilhada das cidades, propondo, debatendo e formulando ideias para uma outra cidade, com uma Arquitetura e Urbanismo que suscite minimização das desigualdades sociais, com espaços que garantam acessibilidade para todos. Sobre um outro viés, o arquiteto urbanista como elaborador/executor das intervenções urbanísticas deve pensar na cidade como espaço de troca entre todos os entes, de exposição e de consumo da boa Arquitetura e Urbanismo como elemento de cidades mais seguras e sociáveis.

 

Você é a segunda presidente a dirigir o Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia. Quais são os principais desafios trazidos por esta posição?

 

No primeiro momento, a presidente teve seu mandato interrompido por motivo de doença. Hoje, acredito que posso retomar a relação com a categoria profissional, ouvindo-os e compartilhando ideias para a valorização profissional; articulando parcerias para ampliar o mercado profissional nas cidades do interior da Bahia, a partir de diálogos com gestores, fornecedores e os próprios profissionais; atuando também na fiscalização do exercício profissional, coibindo as ilegalidades. Um outro desafio é melhorar as relações com profissionais da engenharia na tentativa de construir uma proposta que determine os limites de atuações privativas entre arquitetos e engenheiros.

 

Qual legado espera construir durante a condução do CAU/BA?

 

Espero que o CAU/BA seja reconhecido na Bahia pela sua atuação no direito à cidade, na aproximação do profissional para propor formas de qualificação e valorização da profissão. Espero que a sociedade baiana e as instituições de gestão e de ensino vejam o CAU/BA como uma instituição parceira para compor melhores práticas.

 

Qual é o seu sonho enquanto profissional da Arquitetura e Urbanismo?

 

Que a Arquitetura e Urbanismo seja acessível a todos os estratos sociais.

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