Aina Kaorner –
Nesta quarta-feira, 5, é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente, mas especialistas ouvidos por A TARDE dizem que ainda há um longo caminho para Salvador ser considerada modelo de metrópole sustentável.
A data, instituída em 1972, pela Organização das Nações Unidas (ONU), durante a Conferência de Estocolmo (Suécia), marcou os primeiros debates sobre o conceito de sustentabilidade ambiental, que tem como premissa básica
o objetivo de atender às necessidades presentes sem comprometer as possibilidades futuras.
De acordo com a engenheira e professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Ilce Marília Dantas, não existe uma cidade que possa ser considerada totalmente sustentável, mas existem ações e práticas sustentáveis que podem melhorar a qualidade de vida da população.
“Não é possível que uma metrópole não planejada, localizada em um país em desenvolvimento, com uma urbanização tardia e acelerada, seja cem por cento sustentável. É possível, sim, diminuir os efeitos negativos da urbanização, mas eliminá-los em uma sociedade capitalista é muito difícil”, ela explica. Ilce acredita que a mobilidade urbana é um dos principais problemas enfrentados pela população.
“Não é possível promover a mobilidade sustentável em uma matriz que privilegia automóvel particular, em detrimento dos modos coletivos. Para que exista um conceito de mobilidade urbana sustentável é necessário que sejam feitas melhorias nos transportes públicos e a inserção de meios de transporte como a bicicleta e o metrô”.
Para o presidente do Instituto EcoDesenvolvimento, Isaac Edington, o crescente aumento da violência é também fator determinante para a diminuição da qualidade de vida e do baixo uso dos espaços públicos.
“A violência inibe a cidadania e retira o potencial de aproveitamento da cidade.
A população deixa de ocupar as praças e fica trancada em locais fechados, como os shoppings. Este é um desafio enfrentado não só por Salvador, mas por toda metrópole. Esta é uma questão prioritária que se tornou objeto de discussão global”, analisa.
Quando o assunto é locomoção, coleta sustentável de resíduos e qualidade do ar e da água, Edington é enfático ao afirmar que a melhor solução é investir em educação. “Quando progredimos na educação, avançamos na qualidade de vida”, ele acredita.
Papel do cidadão – Para a bióloga e professora Josanídia Santana Lima, é impossível pensar em sustentabilidade ambiental sem abrir mão de alguns valores que promovem a economia crescente.
“O estímulo ao consumo, refletido no aumento progressivo da venda de carros, torna a sustentabilidade ambiental uma eterna utopia.
O cidadão acredita que mudou de vida porque comprou um carro, mas não passa de ilusão. A consequência disso é que a cidade possui cada vez mais veículos, e o indivíduo, menos qualidade de vida”, opina Josanídia.
Para Ricardo Pessoa, um dos representantes do Movimento Nossa Salvador, esta não é uma responsabilidade exclusiva do poder público, mas também do setor privado e de toda a população.
“O caminho para a sustentabilidade é praticar a ética do cuidado e respeito, em prol de um ambiente saudável. O indivíduo precisa ter consciência de que o bem público pertence a ele e que a situação atual é resultado de nossas ações e omissões”, acrescenta Pessoa. http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/materias/1508646-capital-tem-longo-percurso-para-tornar-se-sustentavel